Foi em 13 de setembro de 1987 que teve início, com abertura de uma cápsula de raios X, o maior acidente radiológico da história.
Há 25 anos, no dia 13 de setembro de 1987, começava o acidente radiológico do césio 137, em Goiânia. A falta de informação, na época, a curiosidade de quem manteve contato com o cloreto de césio, que reproduzia uma luz azul no escuro, e a fácil fragmentação da substância formaram a combinação que culminou na morte de quatro, deixando sequelas físicas e psicológicas em outras centenas de pessoas.
Até então, nada parecido havia si registrado. O acidente radiológico com o césio detém o triste título de maior já ocorrido no mundo. A desinformação era tanta que, ao começarem a aparecer os primeiros sintomas de enjoo nas vítimas, os médicos cogitaram que pudesse ser intoxicação alimentar. Num segundo momento, com o aparecimento de feridas, surgiu a hipótese de doença tropical. Só na terceira análise, duas semanas depois e com a ajuda de um físico-médico, que por acaso estava em Goiânia, é que foi levantada a possibilidade de contato dos pacientes com alguma radiação ionizante.
Tudo começou quando dois homens que trabalhavam com coleta de material para revender a ferros-velhos descobriram que existiam objetos metálicos abandonados no antigo prédio do Instituto Goiano de Radioterapia, na Rua 57, Centro. Dentre estes, constava um aparelho de radioterapia. Ao deduzirem que aquilo poderia render boa quantia em dinheiro, os tais homens começaram a desmembrar o aparelho para transportá-lo até o local da venda, na Rua 26-A, Setor Aeroporto. Depois disso, passaram a trabalhar na abertura até chegar ao pó aglutinado do cloreto de césio.
A substância despertou a curiosidade dos homens. Um dos donos do ferro-velho para onde o aparelho foi levado, Ivo Ferreira, levou uma porção do pó para casa para mostrar a amigos e parentes a luz azul emitida. Várias pessoas mantiveram contato com o material. Dentre elas, crianças e adolescentes, como a filha dele, a pequena Leide Ferreira das Neves, de apenas 6 anos. Ela foi a primeira a não resistir aos sintomas da radiação, morrendo no dia 23 de outubro, exatos 40 dias após o acidente. A garota ingeriu quantidade significativa do pó. Com as mãos sujas de césio e sem lavá-las primeiro, Leide foi para casa, onde fez uma refeição e pegou na comida (ovo frito) antes de ingeri-la.
Leide das Neves virou símbolo do acidente. Até o ano passado, deu nome à fundação e, depois, superintendência criada pelo governo estadual para dar assistência a todas as pessoas envolvidas direta e indiretamente no acidente. No mesmo dia da garota, também veio a óbito a tia dela, Maria Gabriela Ferreira, de 37 anos. Cinco dias depois, foi a vez de Adimilson Alves de Souza, 18, e Israel Batista dos Santos, 22. Todos tiveram contato direto com o cloreto de césio e morreram de síndrome aguda de radiação (SAR).
Descoberta e pânico
A hipótese de contato das vítimas com radiação ionizante surgiu no dia 27 de outubro de 1987. Os pacientes, até então, estavam no Hospital de Doenças Tropicais (HDT). Um dos médicos da unidade lembrou de um colega de profissão, Valter Mendes Ferreira, que tinha especialização em física e estava de passagem por Goiânia, podendo ajudar na investigação da causa dos sintomas. O tal profissional, ao saber do contato das vítimas com material suspeito, procurou saber para onde ele havia sido levado – para o prédio da Vigilância Sanitária, no Setor Aeroporto – e enfatizou a necessidade de medir a radiação do mesmo.
Na época, o aparelho de medição foi emprestado pela Nucleobrás. Assim que foi constatada a existência de radiação, Valter Mendes deduziu que a substância havia se fragmentado e a fonte não era somente aquela que estava no prédio da Vigilância. Ele alarmou, imediatamente, o secretário de Saúde, Antônio Faleiros, que mobilizou toda a estrutura possível para acompanhar o fato. Os locais frequentados pelas vítimas foram isolados e as famílias, retiradas das casas. Isso foi no dia 29, quando a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) recebeu o primeiro comunicado do ocorrido.
O diretor de Radioproteção e Segurança Nuclear da Cnen, Ivan Salati, já estava na comissão durante o acidente e conta que, após o comunicado, o diretor do Departamento de Instalações Nucleares, na época, José Júlio de Rosental, saiu às pressas do Rio de Janeiro, acompanhado de dois técnicos especialistas. Certificada a radioatividade do césio e confirmada a tragédia, o Cnen enviou 250 pessoas para ajudarem no trabalho técnico e outros 300 auxiliares para tentar conter o avanço da radiação.
Fonte: Jornal O Hoje
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